
Introdução: Em Portugal, entre 1,8 a 3 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza energética. Consequência do fraco desempenho energético dos edifícios, rendimentos baixos e preços de energia elevados. É agravada pelo aumento de eventos extremos associados às alterações climáticas, apresentando potencial para afetar negativamente a saúde. Neste estudo estimou-se a associação entre o Índice de Vulnerabilidade à Pobreza Energética (IVPE) e os níveis de tensão arterial na população adulta portuguesa.
Métodos: Utilizaram-se dados do Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico 2015, com medição da tensão arterial sistólica (TAS) e diastólica (TAD) (n=3487). O IVPE para aquecimento e arrefecimento, ao nível da freguesia, foi calculado anteriormente por membros da equipa (baixo/médio/alto). As associações foram estimadas por regressão linear, ajustadas para sexo, grupo etário, escolaridade, ocupação, privação material do agregado familiar e urbanização.
Resultados: Residir numa freguesia com elevada vulnerabilidade à pobreza energética para o aquecimento encontrou-se associado a um aumento de 1,9% dos níveis médios de TAS (IC95%:0,4%-3,6%) e TAD (IC95%:0,3%-3,9%). Para o arrefecimento, observou-se um aumento significativo de 2,3% (IC95%:1,0%-3.6%) dos níveis médios de TAS, embora sem significado estatístico para a TAD.
Discussão: Verificam-se poucos estudos sobre estas associações, considerando pobreza energética e variáveis objetivas de saúde. Os resultados encontram-se em linha com estudos anteriores que demonstraram que a tensão arterial tende a ser mais elevada em climas frios devido à constrição dos vasos sanguíneos que ocorre quando o corpo tenta reter o calor, em climas quentes, pelas tentativas do corpo irradiar calor.
Conclusões: A vulnerabilidade à pobreza energética encontra-se associada a um aumento significativo da tensão arterial na população portuguesa, podendo contribuir para o aumento de eventos cardiovasculares em situações climáticas extremas.